IF I CAN DREAM - A CANÇÃO DO RETORNO

'If I Can Dream' uma canção dramática composta por W. Earl Brown, digna de ser ovacionada, que começa suave, lentamente evoluindo para um final majestoso e arrebatador. 

Essa canção encerra o especial de TV 'Elvis', transmitido pela NBC no dia 3 de dezembro de 1968 e marca o retorno triunfal de Elvis Presley aos palcos. Mais tarde o especial recebeu o título Comeback Special 68' -- produzido por Steve Binder e Bones Howe

Numa noite de gravação, em clímax de ansiedade e expectativa, Steve acompanhado de Earl Brow e Billy Goldenberg, que lhe apresentaram a canção, fazem uma audição ao piano. Steve ficou convencido  de que havia encontrado a música certa para o encerramento do programa. Quando Elvis chegou, Steve pediu para ele entrar no estúdio e Earl e Billy tocaram e cantaram a canção para ele. Elvis então pediu para que tocassem de novo, de novo, e de novo. Elvis na hora decidiu que cantaria essa música.

Mas Steve ficou sabendo mais tarde que o Coronel Tom Parker, empresário de Elvis, havia comentado: - 'Bem, só se for por cima do meu cadáver, ele vai cantar 'If I Can Dream'. 

 - "Assim que Elvis disse que iria cantá-la, eu fui até a outra sala e disse: 'Ele vai cantá-la'. E imediatamente a RCA quis os direitos de publicação. E o Coronel Parker ficou sentado, totalmente frustrado porque não queria desafiar Elvis na frente de todas aquelas pessoas. E a melhor parte de toda a história é que, depois que Elvis disse que a cantaria, Billy pegou uma borracha, apagou seu nome da canção e disse: 'Essa canção é de Earl, não minha. Não tive nada a ver com ela'. Isso provavelmente custou a
Billy Goldenberg centenas de milhares de dólares em royalties. Mas a equipe que trabalhou nesse programa, na minha opinião, e eu fiquei amigo da maioria deles, era feita de artistas muito especiais, que se preocupavam com a integridade do produto mais do que com quanto ganhariam. Isso é uma raridade nos dias de hoje", conta Steve.

Earl Brown morreu em 2008, e contradisse a versão de Steve Binder de como a canção foi escrita, e disse em algumas entrevistas que haveria uma canção para o especial e que para qual ele deveria escrever a letra. Ele escreveu a canção inteira, pensando que se Elvis não a usasse, ele daria a Aretha Franklin para que gravasse. 

Mas Binder manteve sua versão da história. "Conversei com Earl sobre sua composição de 'If I Can Dream' algumas vezes antes de sua morte. Sua versão é completamente fictícia. A única pessoa com quem ele se comunicou ou a quem pediu orientação fui eu durante toda a produção. Anos depois, ele admitiu que não se lembrava muito bem do que falou ou escreveu sobre a canção. Lembro-me muito bem de tudo e como descrevo é exatamente como aconteceu. A partitura, sem dúvida, levava o nome de Billy Goldenberg quando os dois chegaram de manhã na NBC para tocar a música para mim. Embora ele realmente escrevera a canção sozinho, depois que eu pedi para eles irem para casa compor algo que expressasse os sentimentos de Elvis sobre o 'encerramento do especial com canção de Natal'.

De qualquer forma, a canção 'If I Can Dream' tinha tudo que Steve havia idealizado para um encerramento triunfal e majestoso na voz de Elvis.

A letra era um apelo por tolerância, um desejo de uma fraternidade abrangente e universal, um sentimento oportuno em ano que havia visto não só os assassinatos de King e Kennedy, mas também o aumento da discórdia no país por causa das discussões sobre os direitos civis e a Guerra do Vietnã. Se a canção tivesse caído não mãos de qualquer outro artista, ela se tornaria convencional, mas a abrasadora interpretação de Elvis fez dela uma comovente súplica que parecia vir do mais profundo de sua alma.

"Qualquer pessoa que ouve 'If I Can Dream' e ainda chama o 'Rock' N' Roll' de 'música do diabo' está cometendo uma blasfêmia", comenta Darlene Love, que considerou seu trabalho como backing vocal nessa gravação (como as outras duas do trio The Blossoms) um dos destaques de sua carreira.

"Elvis canta essa canção como um cantor gospel", diz Joe Moscheo, integrante do 'The Imperials', o grupo gospel que participou do álbum 'How Great Thou Art'. "Ele parece completamente arrebatado pela mensagem, praticamente como uma pessoa em transe."

Elvis se entregou tanto a sua interpretação e a emoção da mensagem transmitida pela canção, que seus movimentos no estúdio, quando a música foi gravada em 23 de junho, correspondiam ao alto drama de seu vocal. "Ele terminou a canção de joelhos, de frente para as cordas", diz Bones Howe. "Os violinistas não acreditavam no que estavam vendo. Eles ficaram pasmos olhando para esse cara dobrando os joelhos. O que ele fez foi simplesmente brilhante. Cantou daquele jeito que depois fez no palco. Imagino que os caras da banda, os caras de seção rítmica, já haviam visto tudo isso antes, mas os músicos dos instrumentos de cordas ficaram perplexos."

No entanto, Elvis não havia ficado satisfeito com sua gravação e perguntou se poderia gravar novamente depois que os músicos fossem embora. "O estúdio era enorme, as cadeiras continuavam  no lugar e todos os músicos haviam ido embora", diz Steve. "E, antes de ele começar a cantar, eu disse: 'Vamos apagar todas as luzes do estúdio'. Então no escuro, Elvis cantou 'If I Can Dream'. Foi um daqueles momentos incríveis que ninguém pôde ver, a não ser algumas pessoas que estavam na sala de controle, assistindo pelo vidro daquele estúdio imenso. Vi Elvis literalmente no chão, em posição fetal, segurando o microfone e cantando a canção."Elvis ficou no estúdio  por mais de uma hora, ouvindo a canção repetidas vezes, claramente satisfeito e talvez surpreso, com a magnitude de seu trabalho."

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 'IF I CAN DREAM' 

 E SE EMOCIONE"

Fonte: 'O Retorno do Rei: A grande volta de Elvis Presley' - por Gillian G. Gaar
Adaptação de texto: Simone Fernandes.



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