ELVIS E A BUSCA ESPIRITUAL - POR PRISCILLA PRESLEY - PARTE II

"Foi em abril de 1964 que Larry Geller foi contratado para substituir o barbeiro de Elvis, Sal Orfice. Não podíamos imaginar na época que o novo relacionamento não apenas acarretaria numa mudança profunda em Elvis, mas também criaria neurose, ciúme e medo do grupo.

Eu estava em Memphis quando ele conheceu Larry Geller, mas soube de tudo a seu respeito através de nossas conversas telefônicas noturnas. O entusiasmo de Elvis por seu novo amigo e confidente era contagiante.

_  Você não vai acreditar no cara, Sattnin _ disse ele.

_ Larry sabe mais sobre o mundo espiritual do que todos os pregadores, padres católicos e fanáticos religiosos juntos. Temos discussões que se prolongam por horas, falando sobre os grandes mestres e o propósito da minha presença neste mundo. Estou convidando-o a ir até Graceland. Ele vai aprofundar o nosso desenvolvimento espiritual.

Quando Larry e a esposa, Stevie Geller, se juntaram a nós, fiquei surpresa ao descobrir que eram jovens e bastantes atraentes. Ele era jovial e gentil. Ela era doce, suave e retraída.

Contudo, muitos do grupo, inclusive eu, ficaram desconfiados. Todos estávamos ameaçados pelo envolvimento de Elvis com Larry. Estava afatando-o de nós. Parecia que Elvis estava sempre distante, lendo livros esotéricos ou absorvido em conversa com Larry sobre o plano de Deus para o universo, e coisas assim.

Elvis descobriu com perplexidade que havia muitos grandes mestres, além de Jesus Cristo. Havia Buda, Maomé, Moisés, Hermes e outros, 'escolhidos por Deus para servirem a um propósito'. O que eu testemunhava agora em Elvis era o afloramento da parte de sua natureza ansiosa por respostas para todas as questões fundamentais da vida.

Ele perguntou a Larry por que, entre todas as pessoas do universo, fora escolhido para influenciar milhões de almas. Instalado nessa posição privilegiada e singular, como ele podia contribuir para salvar um mundo assoberbado pela fome, doença e pobreza? E, antes de mais nada, por que havia tanto sofrimento humano? E por que ele não era feliz, quando tinha mais do que qualquer um podia desejar? Achava que estava faltando alguma coisa em sua vida. Através da percepção de Larry, ele esperava encontrar o caminho que o levaria às suas respostas metafísicas.

Elvis estava esperançoso de que todos nós - especialmente eu - absorvêssemos a sabedoria que ele estava consumindo. Feliz em partilhar tudo, exatamente como fizera com as análises da Bíblia em Los Angeles, ele lia para nós por horas a fio, distribuindo os livros que julgava que nos interessariam. Anunciou que eu teria de acompanhá-lo na busca das respostas para o universo, a fim de que pudéssemos nos tornar perfeitas almas gêmeas. Para ajudar-me, ele ofereceu-me vários livros, inclusive 'A iniciação do Mundo', de Vera Stanley Adler, uma escritora esotérica.

Ele sugeriu que eu assistisse ás conferências do filósofo e autor metafísico Manley P. Hall. Aceitei o seu convite. Achei que as conferências eram difíceis de compreender e penosas de suportar, mas consegui sobreviver, com a esperança de que 'isso também ia passar'.

Depois, Elvis interessou-se pelo 'Livro dos Números', que definia as características das personalidades das pessoas de acordo com o dia do mês em que haviam nascido. A fim de descobrir quem era compatível com quem, Elvis calculou os números dos dias de nascimento de todos no grupo. Fiquei terrificada, torcendo para que meu número fosse seis, sete ou oito, a fim de ser compatível com Elvis, que era oito. Felizmente, meu número esotérico combinava com o dele.

Confesso que, embora estivesse me esforçando para ser a alma gêmea de Elvis e sutilmente me tornasse cada vez mais consciente de mim mesma como um ser espiritual, meu coração ansiava pelas próprias tentações que ele se empenhava em dominar.

Enquanto eu esperava pacientemente em Graceland por suas voltas, planejando interlúdios românticos, Elvis tentava superar as tentações do mundo e estava convencido de que passava por um período de purificação, física e espiritual. Quaisquer tentações sexuais eram contra tudo o que ele estava buscando e não desejava trair, a garota que o esperava em casa, preparando-se para ser sua esposa.

Elvis sentia-se culpado e confuso por sua reação natural aos avanços femininos e creio que esse era o seu maior medo no casamento. Ele me amava e queria ser fiel a mim, mas nunca teve certeza de que poderia resistir às tentações. Era uma batalha persistente e ele chegou a um ponto em que estava convencido de que devia resistir até a mim. Uma noite, antes de deitarmos, ele disse:

_ Cilla, você terá de ser muito compreensiva nas próximas semanas ou por quanto tempo mais for necessário. Sinto que devo me afastar das tentações do sexo _ dizia.

_ Mas por quê? E por que comigo?

Eu não podia compreender...

Ele estava absolutamente solene e convicto.

_ Temos de controlar nossos desejos, a fim de podermos dominar todos os outros desejos.

Quando deitamos, ele tomou a sua dose habitual de pílulas para dormir, entregou a minha e depois, lutando contra a sonolência, pôs-se a ler seus livros metafísicos.

 Como sua alma gêmea, eu deveria buscar as respostas tão fervorosamente quanto ele, mas não suportava ler os livros empolados que nos cercavam na cama todas as noites. Geralmente, cinco minutos depois de abrir um livro eu já estava dormindo, Elvis me acordava para partilhar um trecho profundo. Se eu manifestasse desinteresse ou o menor protesto, ele dizia:

_ As coisas entre nós nunca darão certo, Cilla, porque você não demonstra o menor interesse por mim ou por minha filosofia.

E depois ele acrescentava, inciso:

_ Há muitas mulheres por aí que gostariam de partilhar essas coisas comigo.

Confrontada com essa ameaça, eu me forçava a sentar na cama e tentava ler o trecho. As palavras se embaralhavam diante de meus olhos, borrados.

O que queria era partilhar com ele um vida romântica não religiosa. Tentava me aconchegar contra ele ao máximo possível, sentindo o calor do seu corpo. Então, ele me mandava sentar direito e escutar. Lia outro trecho, repetindo-o várias vezes, para ter certeza de que eu apreendia o seu significado. Uma noite, impaciente, perdi o controle e comecei a dar gritos:

_ Não aguento mais! Eu não quero ouvir mais nada! Estou cansada de ouvir sua voz falando interminavelmente essas coisas! Está me levando à loucura!

Eu estava histérica, puxando os cabelos como uma mulher desvairada.

_ O que você está vendo, Elvis? Vamos, responda: O que você está vendo? Responda!

Ele fitou-me, os olhos semi fechados:

_ Uma louca, uma louca delirante _ respondeu, com a voz meio enrolada, por causa das pílulas para dormir.

Fiquei de joelhos ao seu lado, gritando:

_ Não Elvis, não uma louca, mas sim uma mulher que precisa fazer amor e se sentir desejada por seu homem. Elvis você pode ter seus livros e a mim também. Por favor, não me faça implorar. Eu juro que preciso de você. Eu quero você. 

Quando eu concluí minha argumentação, tudo o que podia ouvir era o som suave de música religiosa tocando no rádio. Olhei para ele. Elvis mergulhava num sono profundo."

--> PARTE FINAL

Fonte de pesquisa: Elvis and Me, por Priscilla Beaulieu Presley, New York, G.P Putnam's Sons, 1985.


    

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